Grupo Morena investe no milho-pipoca, uma opção mais rentável do que o milho utilizado no biocombustível.
Antes do nascer do sol, o canto das araras quebra o silêncio e indica o início da manhã na tranquila Campo Novo do Parecis (MT). No município com quase 46 mil habitantes, as ruas da área urbana ainda permanecem livres de carros. Enquanto isso, na rodovia MT-235, o tráfego de bitrens é intenso devido à pressa para transportar a soja colhida na região para processamento. O objetivo é liberar espaço nos armazéns para a chegada da colheita de milho, prevista para a segunda quinzena de maio.
A aproximadamente 51 quilômetros do centro da cidade, na Fazenda Morena, a unidade de processamento de sementes está em pleno funcionamento. "Este ano estamos com uma quantidade enorme de sementes de soja, o que é um bom problema. Produzimos 380 mil sacas de sementes, em comparação com as 280 mil sacas do ano passado", revela Vanessa Chiamulera, gerente de processos do Grupo Morena.
O clima mais seco do que o habitual contribuiu para uma colheita de soja com qualidade superior para a produção de sementes. Chiamulera destaca que o valor das sementes é 70% maior do que o preço de venda do grão de soja. A produção total da oleaginosa atinge 688 mil sacas, das quais parte já foi vendida para empresas como SeedCorp e Agro Amazônia, enquanto o restante é comercializado para tradings.
"A questão é que agora vem o milho e ocupa tudo", afirma Chiamulera. Com capacidade de armazenar 500 mil sacas, a empresa planeja colher entre 845 mil e 878 mil sacas de milho na segunda safra, além de 198 mil a 209 mil sacas de milho-pipoca. A colheita estava prevista para iniciar na segunda quinzena de maio. Para dar vazão ao cereal, a companhia expandiu de seis para 14 o número de bitrens disponíveis para transporte.
Neste ano, pela primeira vez, o Grupo Morena investiu no cultivo de milho-pipoca e é também a primeira vez que irá processar o grão. A decisão foi motivada pela queda nos preços do milho em comparação com anos anteriores.
Segundo Romeu José Ciochetta, CEO do Grupo Morena, nos anos anteriores a empresa focava mais no milho, devido à boa rentabilidade gerada pela demanda pelo etanol. No entanto, neste ano, devido à superoferta, os preços do milho caíram consideravelmente. Com isso, o milho-pipoca ofereceu uma rentabilidade mais do que o dobro do milho por hectare. A produtividade esperada para o milho-pipoca é de 90 a 95 sacas por hectare, enquanto para o milho é de 130 a 135 sacas por hectare.
O milho-pipoca foi vendido antecipadamente para a Cooperativa Agrícola de Produtores de Cana da Campo Novo do Parecis (Cooperagro) e para uma empresa local, enquanto o milho é processado na usina da Alcooad Indústria de Etanol, no distrito de Deciolândia (MT), que produz etanol de milho e farelo de milho (DDG) para ração.
Com a presença das usinas de etanol no estado, o milho deixou de ser uma safra secundária e se tornou uma cultura com mais relevância, de acordo com Ciochetta. Mato Grosso abriga o maior número de usinas de etanol de milho do país, com 22 unidades em operação e 11 aprovadas para construção. Na safra 2023/24, a moagem de milho para etanol cresceu 37,8%, resultando em uma produção de 4,54 bilhões de litros do biocombustível, um aumento de 39,2% em relação à temporada anterior.
Diante da queda na rentabilidade do milho, o Grupo Morena optou por diversificar sua produção de milho-pipoca, devido às margens mais atrativas. Para o próximo ano, a empresa está considerando ampliar a área de cultivo, especialmente se firmar contrato de fornecimento com a General Mills. "Certamente teremos uma área com eles no próximo ano", afirma Ciochetta.
*A repórter viajou a convite da General Mills.