A Região Noroeste do Paraná, que enfrenta escassez de chuvas, é a que possui a maior extensão de terras agricultáveis com sistema de irrigação implementado. Ontem (22), o governo estadual anunciou um programa com o intuito de expandir essa área irrigada, por meio de investimentos na ordem de R$ 200 milhões, destinados a linhas de crédito com juros subsidiados e estudos científicos.

O programa Irriga Paraná tem como meta aumentar em 20% a área irrigada do estado. O governador Ratinho Júnior ressaltou que a intenção é promover o uso da irrigação, uma técnica que assegura maior rendimento e previsibilidade ao produtor. “Em face das mudanças climáticas e da necessidade de aumentar nossa produtividade, optamos por implantar esse programa, que facilitará a vida do agricultor, tanto no desenvolvimento de projetos técnicos quanto nas questões relacionadas a licenciamento ambiental e outorgas, além de oferecer juros subsidiados”, pontuou.

A expectativa é que a irrigação proporcione ao estado a oportunidade de realizar até cinco safras a cada dois anos, contribuindo para elevar a renda do produtor e do estado, impulsionando o crescimento do agronegócio paranaense.

Atualmente, o Paraná conta com uma quantidade reduzida de áreas irrigadas. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), somente 3% das terras destinadas às lavouras possuem sistema de irrigação, o que equivale a 170 mil hectares. Dessa cifra, 100 mil hectares estão localizados no Noroeste (área caracterizada pela escassez de água e altas temperaturas), 15 mil hectares na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e os 55 mil hectares restantes distribuídos entre outras regiões.

Atualmente, o Brasil irriga de 6 a 7% de sua extensão de terras agricultáveis, estimada em um pouco mais de 70 milhões de hectares, de acordo com Eduardo Navarro, da Câmara de Irrigação da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Navarro destaca que outros países que são importantes produtores agrícolas irrigam cerca de 25% de suas áreas agricultáveis, sendo que na China esse percentual chega a 70%.

Em fevereiro, uma equipe do governo estadual visitou o estado de Nebraska (EUA), renomado pela excelência em sistemas de irrigação, com o propósito de conhecer soluções desenvolvidas por grandes corporações desse setor e analisar como o poder público local conseguiu simplificar e apoiar a instalação desses sistemas.

A maior parte dos R$ 200 milhões a serem investidos no âmbito do Irriga Paraná, no montante de R$ 150 milhões, será destinada a linhas de crédito para incentivar a instalação de sistemas de irrigação. Desse total, R$ 78 milhões serão disponibilizados pelo Banco do Agricultor Paranaense (por intermédio da Fomento Paraná, com subsídio para a taxa de juros), R$ 42 milhões pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e R$ 30 milhões por meio do Fundo de Equipamento Agropecuário do Paraná (FEAP), gerenciado pela Seab. A execução do programa ficará a cargo do Sistema Estadual de Agricultura (Seagri).

Os agricultores familiares enquadrados nas linhas do Plano Safra terão isenção de juros por meio do Banco do Agricultor Paranaense, com prêmios de até R$ 20 mil em casos de cumprimento dos pagamentos. Para os demais produtores, haverá subvenção de cinco pontos percentuais até o limite de financiamento de R$ 1,5 milhão.

No BRDE, será estabelecida uma linha de crédito específica com recursos livres, com subvenção de juros variando de 7% a 12% ao ano, de acordo com o valor do financiamento, disponível durante todo o ano. Por meio do FEAP, os projetos serão encaminhados pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná). Empresas de serviços e equipamentos serão cadastradas por meio de chamada pública, sendo responsáveis pelos projetos submetidos ao Fundo. Caso a unidade técnica do programa aprove, o FEAP efetuará o repasse dos recursos diretamente aos produtores.

O Governo do Estado também apoiará a implantação de sistemas irrigados para a agricultura familiar com subvenção direta ao beneficiário final, chegando a até 80% do valor do projeto, limitado a R$ 20 mil.

Entre os elementos apoiados estão a captação e armazenamento de água superficial e subterrânea (poços), sistemas de distribuição de água para irrigação, equipamentos (conjunto motobombas, tubulação, sistemas de distribuição, pivô central, sistemas autopropelidos), instalações elétricas, sistemas de monitoramento de solo e clima (como estações meteorológicas compactas e sensores), sistemas de automatização, entre outros.

A meta do programa é expandir em mais 35 mil hectares a área irrigada no estado, conforme informou o secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Natalino Avance de Souza.

Na área de pesquisa, será destinado um montante de R$ 20 milhões, por meio de recursos provenientes do Banco do Agricultor, FEAP, Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FERH) e Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti). Os investimentos incluem o aprimoramento da gestão dos recursos hídricos em bacias estratégicas, com instalação de radar e estações; o estímulo ao uso de diferentes matrizes energéticas na agricultura irrigada, por meio do RenovaPR; e a promoção da utilização de água para reuso na irrigação, sobretudo em regiões de produção de proteína animal.

Além disso, estão sendo incentivados cursos de capacitação sobre sistemas irrigados sustentáveis. O primeiro curso, promovido pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), teve início em 2022 e envolveu 15 técnicos do IDR-Paraná. Uma segunda turma será aberta em outubro, com mais 20 vagas.

O Paraná possui quase 15 milhões de hectares destinados à agricultura, com 74% da área total do Estado ocupada por terras agrícolas, sendo o segundo maior território plantado do país.

Nos últimos cinco anos de colheitas no Paraná, o prejuízo estimado foi de cerca de R$ 40 bilhões, em decorrência das condições climáticas adversas, principalmente devido à falta de chuvas. Apesar de ter uma média satisfatória de precipitações no estado, nos últimos anos têm sido registrados grandes volumes de chuvas em curtos períodos, seguidos por longas estiagens, prejudicando a evolução dos cultivos.

O estado ocupa apenas 2,34% do território nacional e representa cerca de 5,44% da população, com aproximadamente 11,5 milhões de habitantes. Cerca de 1,53 milhão, ou 13,3%, residem em áreas rurais. O Paraná é líder nacional na produção de frangos, peixes, seda, mel, erva-mate, cevada e feijão; o segundo na produção de soja, milho, suínos, leite, aveia, ovos, trigo e mandioca; e o terceiro em açúcar e laranja. O Valor Bruto de Produção (VBP) em 2023 foi de R$ 197,8 bilhões. (com informações de Agência Estadual de Notícias)