Extrativistas fecham acordo de exportação de açaí em pó

Ribierinhos de Bailique, no Amapá, terão retorno de até R$ 2,4 milhões por mês com vendas para os EUA

Extrativistas fecham acordo de exportação de açaí em pó
Foto: Flickr/Carlos Prado Jr

Os extrativistas do arquipélago de Bailique, no Amapá, realizarão este ano sua primeira exportação direta de açaí para os Estados Unidos com a contratação inicial de dez toneladas do produto liofilizado, processo de beneficiamento que permite comercializar a polpa em pó. O volume supera o total exportado pelo Estado em 2023, quando foram embarcadas 3,9 toneladas do produto, segundo informações do Ministério da Agricultura.

No Brasil, no ano passado, o total de exportação de açaí foi de 68,8 toneladas, das quais 71% vieram do Pará. Os Estados Unidos são o principal mercado para mais de 90% das exportações, que atualmente são realizadas majoritariamente por grandes empresas que compram a produção de comunidades extrativistas ou grandes produtores responsáveis pelo cultivo do açaí.

No caso de Bailique, o contrato de exportação foi diretamente feito pelos produtores através da cooperativa AmazonBai, fundada em 2017 e composta por 144 cooperados. Segundo o presidente da cooperativa, Amiraldo Picanço, essa transação deve gerar um retorno de R$ 2,4 milhões para a comunidade e aumentar a produção local de 75 toneladas anuais para 350 toneladas este ano.

Diferentemente de uma empresa, em que o lucro é distribuído entre os proprietários, no caso da cooperativa, o resultado será dividido de maneira justa e igualitária entre todos os cooperados. Para cada tonelada de açaí em pó, a cooperativa precisará processar nove toneladas do fruto in natura, possibilitando o aumento do volume comprado dos associados.

Atualmente, aproximadamente 20% do açaí produzido pelos cooperados é adquirido pela AmazonBai, e a expectativa é que esse número suba para até 50% com o início das exportações. A meta é alcançar 65% da produção dos cooperados por meio da terceirização do processamento, destinando entre 15% e 25% para o consumo local.

Com uma política de preço fixo ao longo de toda a temporada, a cooperativa tem conseguido pagar em média até 30% a mais pelo açaí dos cooperados, evitando as flutuações de mercado que podem variar de R$ 25 a R$ 300 por lata. Com a versão desidratada do produto, estima-se que os produtores recebam um valor até 400% superior ao pago pela polpa in natura.

De acordo com Andrea Azevedo, diretora executiva do Fundo JBS Amazônia, que tem auxiliado a cooperativa na profissionalização de sua gestão, a liofilização do açaí foi um passo estratégico para os extrativistas conquistarem o mercado internacional. Ela explica que o açaí liofilizado dispensa a necessidade de logística refrigerada, o que aumenta a durabilidade do produto e permite a exportação.

Além dos Estados Unidos, a AmazonBai também está em negociações para enviar o açaí em pó para outros quatro países. A expectativa é que a cooperativa cresça e se torne um centro de beneficiamento e exportação do fruto na região amazônica.

Com o sucesso desse canal de comercialização, outras cinco cooperativas já demonstraram interesse em vender para a AmazonBai. Esse modelo pode ser expandido para outras comunidades próximas, como uma cooperativa de segundo grau, para trabalhar a comercialização e industrialização local.