Impactos da irregularidade das chuvas nas principais regiões produtoras
Se, por um lado, as chuvas são benéficas para o desenvolvimento das culturas em regiões sem irrigação, na fruticultura irrigada a situação muda. O aumento das precipitações nas áreas de fruticultura irrigada prejudica a qualidade dos produtos, eleva os custos com defensivos agrícolas e afeta os ciclos produtivos das plantações.
O fenômeno La Niña continuou afetando os principais polos de produção de frutas do país. Durante o evento, a Região Sul geralmente registra menos chuvas, ao passo que no Nordeste as precipitações aumentam. No Vale do São Francisco, as chuvas entre setembro e dezembro deste ano já acumularam um volume 35% maior do que o mesmo período do ano anterior. Em comparação com a média das últimas cinco safras, choveu 2,2 vezes mais nesse período. Essa região é a principal produtora de uvas e mangas de mesa. Em Linhares, no Espírito Santo, maior produtora de mamão do país, as chuvas também foram recordes.
Já no polo de produção de maçãs, na Região Sul, a situação é oposta. Em Vacaria, as chuvas foram cerca da metade da média dos últimos cinco anos. No início de 2022, as chuvas atingiram níveis máximos, o que reduziu a oferta de frutas no primeiro semestre. Esperava-se um aumento nas vendas no segundo semestre, mas as chuvas prejudicaram os fruticultores, especialmente os que visam o mercado externo, devido à baixa oferta de produtos de qualidade.
Em 2021, o setor de fruticultura teve um recorde de exportações, ultrapassando US$ 1 bilhão. No entanto, em 2022, devido às perdas de volume e qualidade, o setor teve um desempenho inferior ao ano anterior. A receita das exportações entre janeiro e novembro de 2022 foi 15,5% menor do que no mesmo período de 2021.
Apesar das quedas significativas nas exportações de frutas-chave, como maçãs, mangas, melões, uvas e bananas, alguns segmentos tiveram expansão, como limas, limões, pêssegos e abacates, com preços melhores. A concorrência de outros países, problemas como o conflito no Mar Negro e a falta de chuvas afetaram as exportações de frutas do Brasil.
No Vale do São Francisco e no Espírito Santo, os impactos nas exportações decorreram da irregularidade das chuvas ao longo do ano, resultando em custos mais altos com defensivos agrícolas. Apesar da baixa oferta e do aumento do consumo de frutas frescas no fim do ano, os preços domésticos aumentaram, mas as margens serão comprimidas nesta safra. No caso das maçãs, houve competição com frutas importadas da Argentina e Chile.
Pontos de atenção para os próximos meses incluem o hedge cambial e a expectativa de normalização do regime de chuvas, com a perda de força do La Niña. Isso, somado à redução dos custos com fertilizantes, pode melhorar as margens do setor em 2023. As informações foram divulgadas no relatório da Consultoria Agro Itaú BBA.