Iniciativas promovem produção sustentável e impacto social na cadeia do cacau
Veranice Alves da Silva, residente em Dois Irmãos do Tocantins (TO), administra uma pequena agrofloresta em parceria com seus filhos, onde cultiva açafrão junto com frutas, grãos e raízes, além das espécies nativas jatobá e candeia. Seus filhos ficaram sabendo sobre o projeto na escola e agora fazem parte de um grupo de nove mulheres beneficiadas por meio dele.
Esse projeto mencionado é o Programa REDD Cerrado, uma iniciativa da Ecosystem Regeneration Associates (ERA Brazil), empresa voltada para o desenvolvimento de impactos positivos, créditos de carbono e biodiversidade. Veranice ficou surpresa ao descobrir que, com o projeto, teria um ganho aproximado de R$100 por dia através do processamento do açafrão. Além da remuneração diária, as mulheres ainda recebiam 20% das vendas do açafrão, o que facilitou muito para elas.
O intuito do programa é fomentar a agricultura sustentável e proporcionar renda para a população local, especialmente para as mulheres, por meio de um crédito de carbono premium. Adicionalmente, a ERA Brazil ainda emite “créditos de empoderamento feminino”.
Iniciativas como a da ERA Brazil, focadas na produção sustentável e no empoderamento feminino, estão ganhando destaque na cadeia produtiva do cacau.
Luciana Dias, uma agricultora em um assentamento em Uruçuca (BA), relata que, há quatro anos, mudou-se da área urbana para a rural. Atualmente, ela gerencia sete hectares de cacau cabruca no assentamento e em breve planeja comercializar mel e produtos derivados da meliponicultura com abelhas da espécie uruçu, que não possuem ferrão e são comuns na região.
A ONG Tabôa, com apoio do Instituto Arapyaú, do Grupo Gaia e do Instituto Humanize, oferece na Bahia o Programa Microcréditos de Cacau, com o propósito de melhorar a qualidade de vida das famílias produtoras desse produto.
Em 2020, o programa expandiu com a captação de R$1,4 milhão por meio de um Certificado de Recebível do Agronegócio (CRA) verde. Os produtores que solicitam empréstimos podem utilizar o dinheiro de acordo com suas necessidades, mas em geral, destinam os recursos para insumos, adubos e equipamentos para a plantação.
Vinícius Ahmar, gerente de Estratégia para Desenvolvimento Sustentável do Instituto Arapyaú, afirma que, no projeto piloto, houve um acréscimo de mais de 30% na renda das famílias participantes, com algumas alcançando um diferencial de até 50% a mais para vender às marcas reconhecidas, devido ao aumento da produtividade e ao prêmio pago pelo mercado pela qualidade do cacau.
Karine Araújo, coordenadora do Programa de Desenvolvimento Territorial da Tabôa, destaca que desde 2019 foram realizados desembolsos de R$6 milhões em quase 600 operações, com uma taxa de inadimplência inferior a 1%. A capacitação é fornecida juntamente com o crédito, o que contribui para os agricultores aplicarem os recursos de maneira mais eficaz para melhorar a produção e incrementar a renda.
A produtora de Uruçuca expressa sua gratidão pelo projeto, mencionando a visita técnica à área para ajudar a decidir onde investir o dinheiro visando o maior retorno financeiro. Ela relata não ter enfrentado dificuldades no pagamento, devido ao prazo favorável de seis meses de carência e ao retorno rápido proporcionado pela orientação recebida sobre como investir de forma eficiente.