Impacto das mudanças climáticas na disseminação da dengue no Brasil

Aumento alarmante de casos de dengue surpreende regiões como interior do Paraná, Goiás, DF e Mato Grosso do Sul

Impacto das mudanças climáticas na disseminação da dengue no Brasil

Um estudo liderado pelo pesquisador Christovam Barcellos, do Observatório de Clima e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e publicado no portal Scientific Reports da Nature, revelou que a dengue está se expandindo para regiões do Sul e Centro-Oeste do Brasil, que antes não eram tão afetadas. O aumento das temperaturas, associado às mudanças climáticas, tem levado a ondas de calor mais frequentes, impulsionando a disseminação da doença para o interior do país.

De acordo com Barcellos, o estudo destaca que áreas antes menos propensas à dengue, como o interior do Paraná, Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul, estão experimentando um aumento preocupante nas temperaturas, tornando o calor quase constante. Essas condições climáticas favoráveis estão criando um ambiente propício para a proliferação do mosquito transmissor da dengue, juntamente com a circulação intensa de pessoas nessas regiões.

A análise dos dados revelou que as anomalias térmicas estão se tornando mais frequentes e prolongadas, passando de cinco para até 30 dias de calor acima da média durante o verão. Isso intensifica a transmissão da dengue. Além disso, o estudo aponta o desmatamento e a degradação ambiental, principalmente no Cerrado brasileiro, como fatores que contribuem para a propagação da doença. O desmatamento, as queimadas e a conversão de florestas em pastagens têm favorecido a proliferação do mosquito vetor da dengue.

Utilizando técnicas avançadas de mineração de dados, os pesquisadores analisaram informações de 21 anos (2000-2020) para avaliar a relação entre anomalias térmicas, fatores demográficos e padrões de incidência de dengue nas microrregiões do Brasil. Além de Barcellos, o estudo conta com a colaboração de Vanderlei Matos, do Observatório de Clima e Saúde do Icict/Fiocruz; e Rachel Lowe e Raquel Martins Lana, do Centro de Supercomputação de Barcelona, com quem o Observatório mantém uma parceria técnica por meio do projeto Harmonize, conforme informações divulgadas no Portal Fiocruz.