Siderúrgica do interior de SP contribui para aumento da renda de apicultores

Produção de mel é autorizada na plantação de eucaliptos da Maringá Ferro-Liga

Siderúrgica do interior de SP contribui para aumento da renda de apicultores
Foto: Maringá/Divulgação

Uma parceria entre a Maringá Ferro-Liga, companhia siderúrgica do Grupo Maringá, e apicultores do interior paulista resultou em mel e lucro adicional para os produtores. Com localização em Itapeva (SP), a companhia que produz ferro-liga de manganês para indústrias siderúrgicas e fundições com o uso de biorredutores (carvão vegetal) como fonte de carbono, abriu seus bosques de eucaliptos para que os apicultores da região instalem colmeias ao pé das árvores.

O projeto piloto chamado Colmeia teve início em 2023 com a Associação Paulista dos Técnicos Apícolas (Apta), que introduziu 500 caixas de abelhas apis melliferas, e a Cooperativa de Apicultores de Sorocaba e Região (Coapis), responsável pelo processamento do mel. Nesta fase inicial, dez famílias participaram da instalação e gestão das colmeias, realizaram a coleta do mel e ficaram com o lucro.

"Há margem para expandir consideravelmente o projeto e beneficiar mais famílias. Temos 10 mil hectares de florestas, sendo 50% destinados ao comércio e 50% de reserva legal. O Grupo Maringá segue uma abordagem sustentável e optou por usar ainda mais os benefícios biológicos das árvores para gerar renda para as comunidades locais e aumentar a biodiversidade na região", afirmou Hudson Monteiro, gerente florestal da indústria de ferro-liga, em entrevista à Globo Rural.

De acordo com ele, a empresa pioneira na utilização de biorredutores na produção de ferro-liga em São Paulo possui diversos tipos de eucaliptos plantados, que são cortados a cada 7 anos para a produção de carvão vegetal. As árvores geralmente florescem duas vezes por ano. Os apicultores são informados com pelo menos três meses de antecedência sobre o corte das áreas para que possam transferir as caixas de abelhas.

Logo na primeira coleta, a Maringá recebeu uma contrapartida dos apicultores de 500 kg de mel envasados em bisnagas de 280 gramas, para serem distribuídos como brindes institucionais e utilizados em campanhas socioambientais em escolas de Itapeva.

Jefferson Tolotto, presidente da Apta, menciona que a meta é dobrar este ano o número de colmeias nas três propriedades da Maringá e expandir pelo menos mais cinco vezes no futuro, proporcionando oportunidades para mais apicultores trabalharem nas áreas cedidas. A entidade conta com 300 associados, que beneficiam o mel na cooperativa e têm a opção de reservar para a comercialização ou vender no varejo.

Um apiário recém-criado demanda custos consideráveis e também um conhecimento aprofundado da floração local. No caso da Maringá, é possível aproveitar as florações dos eucaliptos e das florestas nativas, mas a produção de mel depende de diversos fatores como a intensidade das florações, o manejo, a genética das abelhas, ter uma abelha-rainha nova, entre outros, explica Tolotto.

A primeira coleta anual foi relativamente pequena e variou significativamente entre os apiários (cada um composto por 50 colmeias), porém Tolotto acredita que há potencial para atingir até 40 ou 50 kg de mel por colmeia por ano. Ele destaca que a parceria, além de gerar renda para as famílias de apicultores, também contribui para a preservação ambiental, uma vez que as abelhas desempenham um papel crucial na polinização.

Com 35 anos de experiência na atividade como um hobby, e total dedicação nos últimos 3 anos, Tolotto afirma que é possível viver com a gestão de cem colmeias, mas o apicultor precisa realizar manutenções frequentes, investir na transferência das colmeias e manter enxames robustos com ninhos de 60 mil a 80 mil abelhas.

O primeiro passo é fazer um mapeamento da área de pastagem apícola e identificar o tipo de vegetação disponível. É essencial que haja produção de néctar em quantidade suficiente. Caso contrário, mesmo com todos os cuidados necessários, a coleta de mel será prejudicada, destaca Tolotto.

Edson Aparecido Xavier, presidente da Coapis, informa que a cooperativa processa e envasa o mel com selo de agricultura familiar conforme a legislação de São Paulo. Os apicultores associados podem optar por deixar o produto para ser comercializado pela cooperativa, que paga atualmente R$ 12,50 por quilo de mel, ou vender o mel diretamente no varejo, recebendo de R$ 35 a R$ 50 por quilo. Mensalmente, a cooperativa processa de 10 a 12 toneladas do produto.

Xavier, que é engenheiro agrônomo e químico, atua com abelhas desde 2000, sendo que em 2014 passou a dedicar-se integralmente a essa atividade. Além de vender mel, pólen, própolis e cera de abelha provenientes dos 32 apiários que mantém na região, ele presta serviços na venda de abelhas e colmeias completas, com valores que variam de R$ 400 a R$ 500 por kit.

Maior produtora de ferro-liga de manganês da América do Sul, a Maringá Ferro-Liga investiu R$ 14 milhões desde 2018 em seu projeto de carbonização do eucalipto plantado em sua floresta com 9 milhões de árvores. Segundo a empresa, o uso de biorredutor proporciona benefícios ambientais significativos, uma vez que, se fossem utilizados 100% de redutores de origem fóssil, a emissão de poluentes na produção de ferro-liga seria até seis vezes maior.

Além de ser proprietária da Usina Jacarezinho, produtora de açúcar, etanol, levedura e energia, o Grupo Maringá fabrica 100 mil toneladas de ferro-liga de maneira sustentável anualmente para abastecer o mercado nacional. Segundo Monteiro, o "aço verde" não apresenta um prêmio no preço, mas é valorizado de forma distinta no mercado. Em 2022, a receita líquida do grupo foi de R$ 1,56 bilhão, com R$ 857,1 milhões provenientes da siderurgia.